segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Ciberdemocracia - Governância e Ciberdemocracia

Levy inicia este capítulo fazendo uma breve retorpectiva do termo "cibernética":

"(...) corrente científica transdisciplinar dos anos 1940 e 1950 que consagrou as noções de informação e comunicação no mundo científico (...) a cibernética designa a 'ciência do comando e do controle', noutros termos, a da governação. (...) Em grego, a palavra kubernétès, em que Wiener se inspirou para construir 'cibernética', significa 'o piloto', 'o homem do leme'. Nenhuma governação é possível sem um circuito de comunicação, sem espaço de circulação de comunicação"... (pg 28)

Em outras palavras, o ciberespaço, ou seja, "o universo da liguagem humana tal qual é estruturada por uma certa ecologia da comunicação", é fundamental e decisivo para a governação das sociedades. Pierre Levy reconhece, assim, a centralidade da tecnologia na organização das sociedades humanas.

"Porque transformam e aumentam as capacidades da liguagem humana, as técnicas de comunicação desempenham um papel capital na evolução da governação política. (...) Recordemos que o nascimento e a solidificação do Estado e da lei são indissociáveis da invenção da escrita. A cidadania e a democracia pressupõem o alfabeto, isto é, a possibilidade de cada cidadão ler, aplicar e criticar a lei, assim como a de participar de sua elaboração". (pg 29)

Percebe-se aqui que tratamos de sociedades estritamente ocidentais, excluindo por exemplo as sociedades indígenas, cuja organização nem sempre passa pela escrita e pelo alfabeto, não sendo, por isso, a-política. Me pergunto qual seria a opinião do autor sobre essas sociedades e seus processos políticos.

De volta ao Ocidente, vemos como as tecnologias gradualmente "desterritorializantes" fomentam a criação de um novo espaço público, que transcende o espaço físico.

"A rede telefônica mundial, a televisão por satélite, a multiplicação dos canais televisivos e, mais recentemente, a interligação mundial dos computadores (...), leva ao nascimento de um novo espaço público". (pg 29)

"A extensão do ciberespaço nos traz, simultaneamente, por um lado, mais liberdade (individual e coletiva) e, por outro, mais comunicação e interdependência". (...) O livre acesso às informações, assim como as possibilidades de associação e de contato, desenvolvem-se de maneira surpreendente nas comunidades virtuais de toda espécie". (pg 29)

"As tecnologias intelectuais do ciberespaço (...) permitem um acréscimo da capacidade técnica - e, portanto, da liberdade de agir - em todos os campos. (...) A própria natureza da cidadania democrática passa por uma profunda evolução que, uma vez mais, a encaminha no sentido de um aprofundamento da liberdade: desenvolvimento do ciberativismo em escala mundial, organização das cidades e regiões 'digitais' em 'comunidades inteligentes', em ágoras virtuais, governos eletrônicos cada vez mais transparentes ao serviço dos cidadãos e voto eletrônico". (pg 30)

Levy reforça novamente a idéia de inteligência coletiva, "uma situação em que todos os documentos e todos os sinais produzidos pela nossa espécie farão virtualmente parte de um único metatexto planetário" (pg 31), "uma diversidade máxima dos saberes, das idéias e dos recursos", para as quais a liberdade é uma condição essencial.

"A democracia compreende ao mesmo tempo a idéia de liberdade e a de inteligência coletiva" (pg 31).

"Na noção de democracia, há, simultaneamente, a idéia dos direitos e das liberdades, que implicam a eminente dignidade do cidadão (versão política da pessoa), e a da deliberação, do debate e da busca comum das melhores leis e, portanto, da inteligência coletiva". (pg 31)

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