terça-feira, 30 de outubro de 2007

Ciberdemocracia - A emancipação em tempo real

Neste capítulo, Pierre Lèvy reflete sobre a rápida expansão da Internet, seus impactos no processo de "emancipação humana" e suas enormes potencialidades de desenvolvimento. Fazendo uma breve retrospectiva das revoluções comunicativas, ele mostra como a imaginação humana não conseguiu, no passado, projetar a realidade de hoje; analogamente, provavelmente a nossa imaginação, no presente, subestima as possibilidades de evolução futura.

"Quem teria previsto a World Wide Web, nas décadas que precederam sua chegada, além de um punhado de filósofos e de sábios, de engenheiros delirantes e de pensadores surrealistas?" (pg 22)

A velocidade de propagação da Internet, porém, não pode ser comparada com nenhuma tecnologia precedente. A televisão, por exemplo, foi inventada em 1925, e a primeira transmissão televisiva no Brasil data de 1948, 23 anos depois. Ao menos mais duas décadas foram necessárias para a popularização do meio. A Internet, por sua vez, foi inventada durante a Guerra Fria, e sua verdadeira popularização inicia-se a partir de 1990. No Brasil, temos um um boom da Internet a partir de 97, e uma década depois esta já se encontra definitivamente consolidada e em contínuo crescimento.

"O ciberespaço foi provavelmente o sistema que mais depressa se propagou, à escala planetária, em toda história da humanidade. Claro, ainda há muitos excluídos". (pg 22)

Porém, Pierre Lèvy considera o grande número de excluídos uma consequência do processo de expansão da Internet que, além de recente, não pode ser planificado:

" O desenvolvimento da web (e da Internet em geral) faz parte desses processos de aparência quase orgânica e não planificados que talvez formem a substância das grandes mudanças culturais". (pg 22)

"Os grandes avanços da emancipação humana (...) têm a mesma natureza, imprevisível, implanificável e incoercível". (pg 23)

Para Levy, é também intrínseca a relação entre comunicação e liberdade.

"Esta aceleração do processo de emancipação humana (...) participa no mesmo impulso vivo que a densificação das comunicações. Privadas de liberdade, as pessoas aprisionadas sabem o que lhes falta, ao passo que aqueles que podem circular e comunicar a seu talante tendem a esquecer que detêm um bem precioso". (...) A capacidade de comunicar e de circular tem uma estreita relação com o desenvolvimento da liberdade". (pg 23)

Muito do que foi dito neste trecho encontra uma perfeita ilustração nos conflitos ocorridos desde setembro na Birmânia (ver post anterior). A informação produzida e divulgada pelos próprios cidadãos se tornou uma arma tão importante contra a repressão militar que o governo chegou a cortar o acesso à Internet em todo o país.

"Mais comunicação implicará mais liberdade. No século que começa, não é somente o ciberespaço que irá crescer, será também a ciberdemocracia". (pg 23)

Hoje, começa a se tornar totalmente plausível a idéia de derrubar - ou, com certeza, desestabilizar - regimes totalitários através da rede.

Voltando à questão central da inteligência coletiva, Pierre Lèvy define a nossa atual sociedade como "a civilização do tempo real".

"A emergência do ciberespaço, novo salto fundamental na história da linguagem, também apressa a tranformação do tempo. A velocidadenormal da evolução cultural deu lugar ao tempo real. A civilização do tempo real gera um estado de inadequação do pensamento salutar permanente. (...) Se esse novo ritmo continuar, quase já não haverá qualquer diferença entre o momento da idéia e o da sua concretização. (...) Mal uma idéia é concebida, é tornada pública, entra em competição cooperativa no ciberespaço com as outras". (pg 23-24)

A idéia de competição cooperativa é um conceito já apresentado pela Escola de Chicago, na concepção ecológica de sua sociologia urbana.

"A derradeira aceleração respeita o processo de produção e troca de conhecimentos. O tempo real é essencialmente uma nova velocidade de aprendizagem coletiva". (pg 24)

Por fim, Pierre lèvy afirma que "poderíamos definir a civilização do tempo real como uma forma de organização social em que a ficção científica se tornou tão importante, senão mais, como as ciências sociais para compreender o mundo contemporâneo". (pg 24) Ele destaca dois importantes autores de ficção científica, David Brin e Bruce Sterling.

Nenhum comentário: