sábado, 12 de abril de 2008

De volta a todo vapor

Estou de volta, após um Mídias Nativas, algumas leituras finalizadas e uns dias de bode. Estou de volta, e apesar de nunca ter parado de trabalhar no tcc durante esse tempo, levei um longo tempo para conseguir escrever aqui de novo. Isso pq, daqui pra frente, significa q nao posso mais parar. Vai ser num fôlego só. Hj estou tentando vencer o medo, a ansiedade e o terror da página branca, e escrevo.

Na última reunião q tive com Massimo, já há bastante tempo, decidi o foco deste TCC. Me conformei - graças a Deus - q não dá pra abraçar o mundo, e fechei um foco q me contenta bastante.

Analisarei um único exemplo, e por acaso é um exemplo q traduz de maneira clara tudo o q eu queria dizer: o Blog de Beppe Grillo. Ele está aí pq denuncia uma ruptura entre a cultura estabelecida, baseada nas mídias analógicas, e a cultura nascente, potente, irrefreável e irreversível das mídias digitais.

Todo o trabalho terá como pano de fundo a questão da opinião pública e a simetria da comunicação (consequentemente, a simetria do poder). Terá como pano de fundo a cultura das redes, a horizontalidade, a cooperação competitiva, a virtualização. Beppe Grillo é um líder carismático, sem dúvida, mas não é só isso q permite a ele virar a Itália de cabeça pra baixo; ele é um líder sensível às forças do subterrâneo, que foi capaz de sintonizar e catalisar através de um espaço virtual. Ele é capaz de mandar às favas o controle da opinião pública pelas televisões e jornais, e demonstrar claramente que ela não depende mais dos meios analógicos. Ainda q não se diga um cazzo sobre Beppe nas mídias tradicionais, milhões de pessoas lotam as praças por sua causa, se organizam inspiradas nele, multiplicam a informação pelo ciberespaço, a favor dele ou não.

Beppe Grillo é um partidário da transparência. É isso q ele exige quando fala de informação livre, quando critica a opacidade dos jornais nas suas relações espúrias com o poder para a produção da informação tradicional. Ele promove a transparência quando coloca em pauta questões que não seriam normalmente agendadas pela mídias analógica, fazendo com q milhares de pessoas se engajem em discussões que não teriam nunca existido sem o seu blog.

Beppe tb nos conta como publicizar-se - não no sentido "publicitário", de promover-se, mas sim no sentido de fazer-se público - é importante para a "sobrevivência" no mundo de hj. Ele pode dizer qualquer coisa de qualquer um, dos detentores do poder e da informação, sem temer, exatamente pq o mundo todo o sabe. Os holofotes estão sobre ele, e quem os ligou não foi a televisão, nem os jornais, foi ele mesmo. E enquanto estiverem sobre ele, ele está invulnerável. Um outro exemplo, coletado tb do blog de Grillo (e sem o qual eu nunca o teria conhecido), nos demonstra a mesma coisa de uma forma bem mais dramática. Pino Masciari, empresário calabrese, denunciou a máfia em sua cidade e agora deveria receber proteção do Estado. Esta proteção, porém, segundo Pino, é deficiente. Pino decide então retornar à Calábria, sem a proteção governamental, em protesto. E abre um blog, através do qual consegue tornar pública sua história, "agendá-la" inclusive nos meios tradicionais de comunicação, angariar apoio e amigos em todo país, e fazer-se menos vulnerável às represálias da máfia. Pino não é mais um anônimo e, qualquer q seja o seu destino, haverá muitos olhos atentos a ele.

Outro aspecto importantíssimo do blog de Beppe Grillo - e não só - é a dimensão lúdica, dimensão esta nem sempre associada a um "fazer política", ligado geralmente à linguagem inacessível dos juristas e políticos de profissão, e a uma pretensa racionalidade moderna. Grillo privilegia a emoção, o sentimento, sem esvaziá-lo de informação. Os recursos audiovisuais, vídeos, músicas, bordões, banners, selos, presentes em seu blog, são os cavalos da multiplicação da informação. Pudemos observar isso tb na campanha dos blogueiros por Burma, em que circulava uma grande número de fotos, selos, banners, ilustrações, etc, facilmente linkáveis, acessíveis e passíveis de inserção no código de qualquer blog.

Por último, pude observar nos comentários de cada post até o momento que uma das críticas mais frequentes a Grillo é não apontar a si próprio como uma solução, candidatando-se à política tradicional. Ora, mas Grillo não pretende mesmo fazê-lo. Isso seria aderir aos valores do centro, q ele tanto critica. E, se muitas vezes decepciona seus leitores por não apontar um caminho, uma solução, uma proposta, como um tranquilizante após a denúncia contundente, é pq deve ser lido do ponto de vista da virtualização - ele cria o campo problemático, mas não cabe a ele resolvê-lo. A resolução da problematização - a atualização, segundo Levy - será o resultado deste campo de forças dinâmicas da comunidade virtual que se formou. Uma das atualizações mais interessantes é a criação das listas cívicas, das quais estão participando cidadãos comuns, em cidades por toda a Itália. O ponto de encontro no ciberespaço continua sendo o blog de Grillo, e ferramentas como o Meet Up facilitam o encontro em carne e osso, num movimento de hibridação. Além disso, a diversidade de assuntos abordados pelo blog alarga o sentido da política: do cenário político italiano, passando por questão energética e chegando até o Tibet, tudo pode ser objeto de encalourada discussão.

Eis alguns vídeos de Grillo que assisti hj, no Youtube. Gostaria de destacar que, a partir um vídeo em que cliquei na pg do blog, assisti pelo menos mais 3 dos muitos que encontrei na página do Youtube. E, com uma rápida passagem de olho, pude ver q grande parte deles superava, individualmente, 5.000 visualizações. Um outro ponto muito interessante é q nenhum deles foi captado por uma rede de TV ou por alguma câmera profissional. O ponto de vista da câmera está sempre na platéia.

Grillo em Treviso
http://it.youtube.com/watch?v=4Y1B4xecorg&NR=1
http://it.youtube.com/watch?v=vzb_H0pQNfI&NR=1

Grillo na Catania
http://it.youtube.com/watch?v=L26SGY6xx5o&feature=related

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