quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Ciberdemocracia - Prefácio e A Questão do Progresso

Pierre Lèvy é o cara.

Começarei aqui o fichamento do livro Ciberdemocracia. Quero deixar bem claro que esses fichamentos não têm nenhuma ordem cronológica e tb não correspondem à ordem das minhas leituras, mas sim à minha vontade e ao tamanho do meu saco no momento. hehe

Nesta obra, Pierre Lèvy se propõe a elaboração de um filosofia política que se adeque às transformações da democracia na era da cibercultura. Desenvolverá os seguintes conceitos: governação mundial, Estado transparente, cultura da diversidade, ética da inteligência coletiva.

Segundo Lèvy: "... a explosão da liberdade de expressão permitida pela Internet abrem um novo espaço de comunicação, transparente e universal de resto, levando a profundamente renovar as condições da vida pública no sentido de uma liberdade e de uma responsabilidade acrescidas do cidadão". (pg 11)

As idéias base colocadas nesta introdução por Pierre Levy - A perspectiva da emancipação - são as de liberdade e de inteligência coletiva. Ele procura retirar as idéias de progresso e de sentido da história do limbo de tabus intelectuais onde foram colocadas.

"Censuram-me frequentemente por 'ter fé no progresso', por abertamente me situar numa perspectiva de emancipação da Humanidade e, portanto, propagar perigosas ilusões" (...) A invocação de um possível progresso, sobretudo quando parece prolongar uma evolução passada, é imediatamente coberta de ridículo devido ao pretenso princípio científico de acordo com o qual a história não tem qualquer sentido (que não uma eterna luta de poderes)". (pg 16)

Levy permeia discursos "perigosos", como por exemplo a evolução biológica darwiniana, usada tantas vezes indevidamente nas ciências sociais como forma de justificar uma certa configuração de poderes.

"O âmago da síntese neodarwiniana é o triplo mecanismo (1) de mutação aleatória, (2) de seleção em função dos desempenhos de reprodução e (3) de memória cumulativa. (...) Efetivamente, ocorre uma seleção, cumulativa, se certas formas na evolução cultural". (pg 17)

Levy defende que as sociedades em que há mais liberdade individual e, portanto, maior cooperação intelectual, têm uma vantagem competitiva em relação às outras, porque os indivíduos são mais capazes de "atualizar o seu potencial" (pg 17). Assim, "o aperfeiçoamento da inteligência coletiva é o produto e o sentido da evolução cultural" (pg 18).

A democracia "é o regime que encoraja um pensamento coletivo da lei, isto é, traduz a inteligência coletiva em política". (pg 18)

Levy também procura retrabalhar a noção de progresso: ele deixa de ser um processo com um objetivo pré-determinado, para se tornar "um processo (inteligente) de autocriação e não a execução de um plano". O progresso, redefinido por Levy, é moral: "o progresso moral implica que recriemos constantemente instrumentos de orientação ética adaptados a espaços de significação sempre mais lata, assim como a conflitos de valores mais numerosos e mais complexos (...) em direção a um alargamento do espaço do sentido e da liberdade que pode assumir a forma de uma assustadora alteridade". (pg 19)

Assim, o progresso deixa de ser um argumento para a supressão da alteridade, como foi muitas vezes utilizado nos séculos XIX e XX, para se tornar exatamente o processo moral de abertura em direção à mesma.

O progresso, para Levy, não tem um objetivo pré-determinado, e é exploratório. "É precisamente por ser um progresso da liberdade que roça continuamente o caos e a catástrofe". (pg 20)

Por fim, Levy acrescenta que o sentido da história não é, como também por longo tempo foi considerado, um sentido em direção ao ponto em que nos encontramos hoje. Muito pelo contrário: "a meta - o progresso da liberdade humana - situa-se sempre para lá do lugar e do momento atuais". (pg 20) "O sentido da história é a abertura do espaço do sentido. É, se quisermos, transcendente". (pg 21)

O último parágrafo traz mais conceitos importantes para o tema aqui abordado: a responsabilidade e a participação.

"Pomos a nossa esperança não um plano divino pré-concebido, mas no destino de uma liberdade em que participamos". (pg 21)

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