quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Free Burma


Birmânia. Atualmente Mianmar. Um país no sul da Ásia, fazendo fronteira com Bangladesh, Índia, China, Laos e Tailândia. Área um pouco maior que a soma de Minas Gerais e Santa Catarina, população de 55 milhões de habitantes. Um país entre tantos outros, sem nenhuma relação especial com o Brasil, sem nenhum papel de destaque no cenário internacional.



Qualquer pensamento meu sobre a Birmânia, até pouco tempo atrás, vinha de uma velha National Geographic lida há muitos anos, e se limitava ao exotismo da paisagem e a como eu achava mais legal o nome Birmânia, não tinha cabimento terem trocado por Mianmar, que é uma droga.

E quem trocou o nome foi a ditadura militar, que governa o país desde 1962. Quarenta e cinco anos depois, a população protesta por democracia e é violentamente reprimida, como em todo bom regime totalitário. Mas isso tudo não é nenhuma novidade, não passa do conflito entre a ditadura e a população de um país periférico, sem nenhuma relevância geopolítica. Normalmente, isso também não passaria de uma nota de poucos segundos na seção "Mundo" dos noticiários. Se não fosse por um pequeno detalhe.

O detalhe é "fodam-se os noticiários, quem precisa deles?". O detalhe se chama Internet. Imagens desse país longínquo, desse conflito distante, feitas pelos próprios civis que presenciavam os confrontos, foram colocadas na rede, denunciando os abusos, e a crueldade das autoridades que não poupavam nem os monges budistas.




E caiu na rede, amigo, é peixe. Houve uma grande sensibilização da blogosfera e logo da comunidade internacional. Uma campanha foi promovida por bloggers do mundo todo. Free Burma.

Um dos principais blogueiros ativistas é Kohtike, um birmanês que vive em Londres. Tentei visitar seu blog, mas aparentemente está com alguns problemas técnicos.

A coisa é tão séria que o governo birmanês cortou a Internet no país, fechou lanhouses, recolheu câmera e celulares, atacou blogs através de vírus, como o de Kohtike. Perceberam rápido qual era a arma mais poderosa e estão tentando acabar com ela.

Minha pergunta é: será que eles vão conseguir? Conseguem impedir que a rede chegue lá? A rede não tem centro, não tem uma cabeça para ser cortada. É um sistema nervoso descentralizado, regenera-se. Apesar do blackout de informações, causado pela interrupção no acesso, quero crer que a rede vai conseguir driblar o sistema.

Além do mais, não se volta atrás naquilo que já foi divulgado e visto. Ainda que se corte a rede, toda a informação que já está nela não pode ser mais apagada ou contida, e seus impactos são igualmente indeléveis. Os meandros da rede não são controláveis, não são coercíveis. O mundo agora já sabe; e a atitude do governo birmanês, de impedir o acesso à Internet no país, só depõe contra o mesmo governo.

E, por fim, ela voltou. E não será mais possível silenciar tantas vozes.

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