domingo, 2 de março de 2008

Bobbio - Democracia e Pluralismo

“A doutrina democrática repousa sobre uma concepção individualista da sociedade”. (pg 23)

A democracia ideal se baseia numa sociedade atomística, em que o indivíduo soberano, retirado do seio orgânico da comunidade, está em livre e artificial associação com os outros indivíduos. Dessa maneira, “a doutrina democrática tinha imaginado um Estado sem corpos intermediários”. (pg 35)

Na prática, porém, e nas disputas de poder nos regimes democráticos, verifica-se que aqueles que têm supremacia são os grupos, e não os indivíduos perseguindo seus próprios interesses: “o que aconteceu no Estado democrático foi o oposto: sujeitos politicamente relevantes tornaram-se sempre mais os grupos, (...) e sempre menos os indivíduos. Os grupos e não os indivíduos são os protagonistas da vida política numa sociedade democrática, (...) na qual não existe mais o povo como unidade ideal (ou mística), mas apenas o povo dividido de fato em grupos contrapostos e concorrentes”. (pg 35)

Para que o ideal de democracia, assim como concebido por Rousseau, se cumprisse, seria necessário que a sociedade, monística, fosse um modelo centrípeto, ou seja, convergisse para um único centro de poder. A sociedade real, contudo, segue um modelo centrífugo, distribuindo o poder entre diversos centros, sendo, além de pluralista, policêntrica.

Esta questão é fundamental para discutir a democracia nos tempos da sociedade em rede, que é uma exacerbação da sociedade policêntrica e pluralista.

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