domingo, 2 de março de 2008

Bobbio - A Democratização da Sociedade

O autor nos coloca um ponto chave para entender o processo pelo qual está passando a nossa sociedade hoje: muito além da democratização do Estado, a democratização da sociedade, ou seja, um processo que atinge o “poder ascendente”, da base ao vértice.

“É perfeitamente possível existir um Estado democrático numa sociedade onde a maior parte das instituições – da família à escola, da empresa à gestão dos serviços públicos – não são governadas democraticamente” (pg 68)

Este processo diz respeito à ampliação dos espaços democráticos de participação e decisão, não só na esfera política, mas principalmente na sociedade civil. O espaço é central para verificar o quão democrático é um regime: “o certo é procurar perceber se aumentou não o número dos que têm o direito de participar nas decisões que lhes dizem respeito, mas os espaços nos quais podem exercer esse direito”.

Nesse sentido, as mídias digitais têm contribuído para aumentar sobremaneira esses espaços, permitindo ao indivíduo uma participação que muitas vezes seria inviável ou muito custosa em outros contextos.

Também no pluralismo e na democratização da sociedade está o remédio para o problema das oligarquias: “através da conquista dos centros de poder da sociedade civil por parte dos indivíduos sempre mais dipostos a participar e a participar sempre de modo mais qualificado -, tornam-se cada vez menos oligárquicas, fazendo com que o poder não seja apenas distribuído mas também controlado”. (pg 73)

Segundo Bobbio, porém, “os dois grandes blocos de poder descendente e hierárquico das sociedades complexas – a grande empresa e a administração pública – não foram até agora sequer tocados pelo processo de democratização”. (pg 70) Realmente, ainda hoje estas instituições não se encontram a par do processo e da demanda por democratização, mas já se começa a observar algumas mudanças neste sentido. A pressão exercida pelo poder ascendente pode ser sentida nos diversos episódios de movimentos promovidos por consumidores contra empresas, e nas novas formas de encarar o próprio consumidor em relação com as empresas (o consumidor é ativo, quer e exige ser ouvido). Outro exemplo é o movimento do V Day, na Itália, que vem se tornando cada vez mais amplo. Num país de constituição fortemente hierárquica não só na esfera política, mas em diversos níveis da sociedade, um número significativo de pessoas tem se articulado via web e saído às ruas para se fazer ouvir.

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